Ilustração: Wagner Pereira Junior |
Ele caminha
pelas estepes e pradarias... sabe que seu pelo
já não é liso e sedoso como
outrora, seus movimentos já são são rápidos e precisos
como na juventude,
a
força lhe falta em alguns movimentos e a resistência se reduziu com o passar
dos anos.
O passado
desfila á sua frente, fatos bons e ruins tendo-o como protagonista ou
coadjuvante fazem com que sua vida se assemelhe a um filme.
A melancolia por
vezes toma conta de seu ser e a amargura oprime seu coração.
Mas entre tantas
coisas que aprendeu uma lhe é especial... ele sabe que o tempo passa para tudo,
e nada é eterno e por mais difícil que seja, tudo cura o tempo, nada perdoa o
tempo. As feridas podem até não se curar mas com certeza irão cicatrizar, elas
estarão ali para demonstrar que um dia já sofremos por algo, mas não sentiremos
mais a dor, restará a lembrança, e se foi boa, teremos boas lembranças.
Ele olha o mundo
e o vê de forma diferente dos seus semelhantes, ele agradece os dias sempre,
agradece até onde sua caminhada o levou, viu e participou mais que os de sua
espécie, conhece mais sobre a vida do que seus contemporâneos, mas ele sabe que
tudo isto tem uma grande responsabilidade , nada vem de graça e que não existe
o acaso.
Ele sabe que
DEUS não joga dados e não conta com a sorte, tudo tem uma razão e um porque, e
muitas das vezes não entendemos a finalidade de tudo isto, mas ele sabe que um
dia teremos um significado de tudo... é uma questão de esperar.
E nestas
reflexões o velho lobo das estepes segue sua caminhada, algumas vezes a saudade
vem lhe visitar, ele a recebe, ela o atormenta por um tempo e depois o
deixa... ele sabe que somos seres suscetíveis e que não temos controle sobre
nossos sentimentos... e por mais estranho que possa parecer, ele sente um certo
prazer com tudo isto, pois isto faz parte da evolução do ser, ele viveu e vive,
e estes sentimentos o formam, o moldam, o forjam cada vez mais.
Ele sabe que
chegará um dia que suas pernas não terão mais forças para levá-lo onde desejar,
que o sol irá se por e não mais irá raiar, seus olhos verão pela última vez o
esplendor da vida, seus pulmões em seu instante derradeiro irão sentir o poder
da vida e de DEUS fluindo e o grande espetáculo irá cerrar as cortinas...
Mas este dia
ainda não chegou, e o velho lobo das estepes caminha, ele algumas vezes olha
para trás, a saudade o invade, mas é para frente que se anda, para a frente que
o sol brilha, ele pára algumas vezes e vive o momento, em outras se reúne com
seus semelhantes e troca suas experiências, mas ao final sempre volta a sua
caminhada, sempre olhando para a frente... e ele pensa em suas divagações:
"quem sabe, se os humanos estiverem certos e o mundo for redondo mesmo, eu
tornarei a passar por lá novamente, quem sabe eu possa viver novamente... quem
sabe eu possa... que ELE me permita...".
E o velho lobo
das estepes segue sua caminhada, para a frente sempre...
Ele sabe que ao
final tudo ficará bem e se não está bem agora é porque ainda não chegou ao
final...
E o velho lobo
das estepes segue sua caminhada, para a frente sempre...
Obs: este texto
usa como base a obra de Herman Hesse (O Lobo da Estepe) adaptado á realidade do
autor.